A capital paulista pode não ter algum dos maiores prédios do mundo, mas a verticalização é cada vez mais presente. A maioria dos bairros tem algum edifício em construção, mesmo em áreas já tomadas por eles, como a região da Avenida Brigadeiro Faria Lima, na zona oeste.
As imagens abaixo mostram o crescimento de um desses prédios em construção no decorrer da via. O terreno antigamente era ocupado por uma grande casa que teve como última função abrigar um restaurante. As fotos, da esquerda para a direita, são do começo de 2010 e de janeiro deste ano:
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Obra de prédio na Faria Lima, começo de 2010
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A verticalização das cidades é alvo de grande debate, com ardorosos defensores e críticos. Para os primeiros, ela é vista como um efeito do aquecimento do setor de construção civil e da economia nacional, além de ajudar a organizar a ocupação do solo e permitir mais unidades imobiliárias em um mesmo espaço, melhorando a qualidade de vida da região.
Por outro lado, críticos argumentam que tão grande concentração em um mesmo local pode ter justamente o efeito inverso, pois sobrecarrega a infraestrutura (vias e meios de transporte, serviços em geral), reduz o número de áreas verdes disponíveis na cidade e piora o já crônico problema da impermeabilidade do solo paulistano, que tanto sofre com as enchentes. Pode inclusive alterar a temperatura local, já que concreto e asfalto retêm mais calor no verão e deixam o ambiente ainda mais frio no inverno.
A Avenida Paulista é um bom exemplo desses efeitos nocivos da verticalização. As centenas de edifícios que ladeiam a via funcionam como verdeiros dutos de ar (quente no verão e frio no inverno), amplificando a sensação de calor em dias tórridos e de fazer tremer os queixos em manhãs e noites gélidas; os velhos casarões da época do café, que outrora dominavam a via, hoje são contados nos dedos e espremidos entre mais e mais arranha-céus; o trânsito é um caos nos horários de pico, sendo mais rápido caminhar do que andar a pé – nem mesmo o metrô, que corre por baixo da avenida, é suficiente para ajudar a escoar tamanho contingente de pessoas que passam pela região.
Tal saturação já levou a Paulista, outrora considerada o coração financeiro da cidade, a perder esse título para a região ao redor das avenidas Faria Lima e Luiz Carlos Berrini (vide as imagens do começo deste post), para onde já migraram diversas representações e sedes de empresas em geral. Alguns costumam chamá-la de “nova Manhattan”, em referência à famosa ilha na qual fica parte de Nova York, dominada por arranha-céus.
A “selva de pedra” da Avenida Paulista ainda é salva pela intensa vida cultural e boêmia da região, tornando-a movimentada. Caso contrário, à noite se tornaria um verdadeiro deserto de concreto e asfalto, deixando-a entregue à própria sorte ao final do horário comercial, como já acontece em outras metrópoles globais.
Tais fatores levam a questionar até que ponto a verticalização, impulsionada pela especulação imobiliária e não por um plano diretor, pode influir ou mesmo prejudicar uma cidade, ao investir e abandonar pura e simplesmente uma determinada região baseando-se apenas nas cifras que pode conseguir. A questão urbana é bem mais complexa e não envolve apenas edifícios de concreto, aço e vidro – mas sobretudo pessoas de carne e osso que vivem, trabalham ou ao menos circulam por eles.