O dia 12 de janeiro de 2010 ficou marcado a ferro e fogo na história do Haiti. A nação mais pobre das Américas veio praticamente abaixo com o abalo de 7 graus na escala Richter. Estima-se que 200 mil pessoas tenham morrido na tragédia.
Como a recuperação caminha a passos lentos, muitos haitianos tentam a sorte em outros países, seja para recomeçar a vida, seja para enviar recursos para ajudar os familiares que ficaram ou mesmo reerguer o que foi destruído pelo tremor. E o Brasil tem sido um dos destinos escolhidos.
O assunto ganhou visibilidade com uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo, publicada em 26 de dezembro de 2011, e a partir daí foi destaque em outros veículos da mídia brasileira. A imigração haitiana, no entanto, começou bem antes, em setembro de 2010, nove meses após o desastre sobre o país caribenho.
Mas agora o debate chega de fato à sociedade brasileira e inclui não apenas a imigração em si, como também os prováveis efeitos dela sobre o Brasil (com direito a pitadas de xenofobia nas opiniões de certos comentaristas e de pessoas comuns) e a respeito das tropas mantidas pelo país no Haiti.
Já existem aqueles que já enxergam na imigração haitiana uma verdadeira “crise humanitária”. De fato, o problema dos que entram de forma ilegal no país e as condições nas quais chegam são uma questão a ser equacionada pelo governo federal, mas ainda está muito longe do que acontece em tamanho e gravidade, por exemplo, na ilha italiana de Lampedusa.
Outra objeção é a de que a vinda de haitianos para cá significaria sobrecarga nos já insatisfatórios serviços públicos e a perda de empregos para uma massa de pessoas disposta a ganhar bem menos que o que seria pago aos brasileiros. O Brasil, no entanto, precisa fugir da tentação de transplantar para cá os mesmos receios dos países europeus mais desenvolvidos.
Fatores como esses mostram o quanto o debate sobre imigração por aqui ainda é imaturo. Pelo próprio tamanho continental e importância dentro da América Latina, é natural o Brasil se tornar um polo de atração para pessoas de outros países, que tentam a sorte por aqui. A imigração é uma realidade com a qual a sociedade brasileira se desacostumou a lidar – basta lembrar dos contingentes de imigrantes europeus que chegaram por aqui entre os séculos XIX e XX.
Com esse retorno à pauta nacional, a imigração promete ser um tema cada vez mais presente no cotidiano. Teoricamente, para uma sociedade multiétnica e miscigenada como a brasileira, tal assunto deveria ser encarado com naturalidade. Mas muitas vezes essa mesma teoria acaba ficando bem longe da prática.
O Haiti é aqui (Gilberto Gil), literalmente falando…
excelente texto